O Padre e o Motorista de Taxi
- Otto Chiquito
- 25 de ago. de 2015
- 3 min de leitura
Nascidos gêmeos em uma família de classe média, dois jovens, apesar da educação católica, acabaram seguindo caminhos diferentes. O mais calmo e fiel às tradições, tornou-se padre. O outro optou pelo caminho das emoções fortes, queria estar sempre em contato com pessoas e viver a vida plenamente.
O tempo foi passando e ambos envelheceram. O padre tinha uma vida sedentária, acabou sucumbindo à obesidade e, com avançada idade, veio a falecer. Chegando ao Céu foi recebido por um anjo que o saudou com um belo sorriso no rosto e o levou para conhecer o lugar onde poderia viver em paz e harmonia.
Após alguns anos, quando passeava pelos jardins do Éden percebeu uma grande movimentação na porta do Céu - até o próprio Jesus Cristo estava lá. Curioso, aproximou-se de São Pedro e perguntou quem estava causando a agitação. Com grande surpresa, descobriu que era o seu irmão gêmeo.
Após o fim das festividades de recepção do recém chegado, ainda curioso, foi ter uma conversa com o Senhor:
- Senhor, perdoe-me de lhe incomodo. Eu sempre me dediquei à Igreja, vivi uma vida inteira dedicada ao Senhor e aos preceitos da boa conduta. Mas meu irmão, pelo contrário, era um irresponsável que dirigia seu táxi como um louco pelas ruas da cidade. E ele foi recebido como um herói aqui no Céu. Gostaria de entender porque ele mereceu um tratamento especial.

Calmamente, o Senhor respondeu:
- Meu caro filho, seus serviços foram muito importantes para a humanidade e foste também recompensado por isso. Mas, veja bem, enquanto você rezava alguns fieis dormiam. Já seu irmão, enquanto ele dirigia, todos no táxi rezavam. Aqui o que importa é resultado.
Brincadeiras à parte, e sem querer julgar a eficiência do clero, apresentamos essa anedota para convidá-los a pensar sobre o papel que assumimos em nossas vidas profissionais. O padre que segue um caminho politicamente correto e sem grandes ganhos? Ou o taxista que produz melhores resultados? A reflexão é válida para todos, principalmente os que lideram equipes e, quase sempre, encontram-se presos ao processo cotidiano, sem poder aventar novos resultados.
Constantemente, ouvimos o termo metas e vivemos a pressão por alcançá-las. Tenho certeza que muitas delas poderiam ser mais ousadas se não estivéssemos tão preocupados em seguir regras e repetir caminhos que outros já trilharam.
Adotamos processos antigos porque são mais seguros e recusamos propostas inovadoras porque quem as apresenta são os “novos na empresa” ou “aqueles que não entendem como as coisas funcionam”. Somos envolvidos pela inércia da rotina diária, seguindo em frente quando tudo parece funcionar satisfatoriamente bem.
Aqui quero fazer um breve parêntese sobre um assunto polêmico: home office. Em geral, aqueles que estão acostumados à vida de escritório apresentam muita resistência a essa nova prática, devido ao medo de perder o controle da situação e não saber separar vida pessoal e vida profissional. Entretanto, inovar é um processo constante que permeia as experiências de vida – e quase sempre passa pelo método de tentativa e erro.
Parece um pensamento vanguardista, mas, em um mundo que muda radicalmente a cada cinco anos, devemos questionar nossos processos e métodos de tempos em tempos. Por que as grandes e médias empresas não buscam pessoas criativas para entender sua gestão e propor novas soluções para velhos problemas? Por que não abrir espaço para o diálogo e ouvir quem mais conhece a sua empresa?
Lembro do caso da “mocinha do café” que sempre pedia ao chefe para colocar uma cafeteira na área de montagem do setor de TVs. Após inúmeras reclamações, sua demanda foi atendida. Para a surpresa de todos, o índice de refugos baixou 5%, o que era muito quando comparado ao volume de produção. Uma análise minuciosa revelou que a insatisfação no aguardo do café acabava afetando a linha de montagem. Ou seja, uma solução simples e localizada (instalação de uma cafeteira) resolveu problemas que os gestores nem haviam percebido e trouxe ganhos para a empresa como um todo.
Será que onde trabalhamos também não existe uma mocinha do café que pode contribuir para melhorar a qualidade dos produtos e serviços? Podemos nos surpreender se descobrirmos que, no fim da estrada, o que importa mesmo são os resultados.

Otécio Chiquito Junior
Sócio-fundador da Chetto Comunicação
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